Paciente morre enquanto esperava por cirurgia eletiva no HGP; fila tem mais de sete mil pessoas

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Antônio Carlos Carvalho de Lima tinha 57 anos e estava aguardando pelo procedimento desde 2020. Ele deixa esposa, filhos e netos. Paciente morre aguardando por cirurgia no HGP; mais de 7 mil estão na fila
Antônio Carlos Carvalho de Lima morreu nesta quinta-feira (2) enquanto aguardava por cirurgia no Hospital Geral de Palmas (HGP). Ele entra para a triste estatística de tocantinenses que precisavam de uma cirurgia eletiva, que não era considerada urgente, mas que acabaram não resistindo porque a demora foi tanta que o quadro de saúde se agravou. Antônio Carlos estava desde o ano passado na fila.
Ele tinha 57 anos. Era trabalhador, marido, pai e avô. Um cidadão tocantinense parecido com muitos outros. Atualmente, outras sete mil pessoas estão na mesma situação em que ele se encontrava, aguardando um procedimento na interminável fila das cirurgias eletivas.
“Meu pai, quando chegou, ele estava em condições de realizar a cirurgia, embora o quadro fosse grave. Mas eles simplesmente negligenciaram, se negaram. O que aconteceu com muitos e que eu nunca imagine que aconteceria comigo aconteceu. E eu fico imaginando quantos serão os próximos”, diz o filho, Rafael Santos Lima.
Antônio Carlos Carvalho de Lima morreu a espera da cirurgia
Reprodução/TV Anhanguera
Antônio foi diagnosticado com um aneurisma na aorta abdominal em 2020. Desde o ano passado a família, que é de Chapada de Areia, lutava por uma cirurgia. Horas antes da morte, uma das filhas chegou a gravar entrevista para a TV Anhanguera cobrando que ele fosse atendido. Ela já temia o pior.
“Cada dia que passa o meu pai está sofrendo. Está sentindo muita dor e o quadro dele só está se agravando, então a gente fica muito aflito. Meu pai precisa desta cirurgia é muito crítico o estado dele. A qualquer hora ele pode vir a óbito”, foram as palavras de Eva Santos.
Esta não é a primeira vez que que familiares fazem denúncias de demora no atendimento no HGP, o maior hospital do Tocantins. Também não é inédito que pacientes morram dentro da unidade de saúde a espera do atendimento adequado.
A lotação é constante, tanto que o governo chegou a tomar a medida extrema de receber apenas pacientes de alta complexidade e quadros graves. A determinação passou a valer em novembro deste ano e ainda está em vigor. A justificativa foi justamente evitar superlotação e pacientes nos corredores.
Na época, a própria Secretaria de Saúde do Estado chegou a confirmar, em nota, que 26 pacientes estavam no corredor esperando transferência, internação ou mesmo alta médica. Em 1º dezembro, ainda segundo a secretaria, o hospital tinha 461 pacientes internados e, dos 19 leitos de UTI, apenas um estava vago.
O governador em exercício, Wanderlei Barbosa (Sem partido) chegou a afirmar, em entrevista, que hospital não era supermercado e, portanto, não poderia fechar as portas. Mas o tempo passou e o novo modelo de atendimento adotado, segue valendo.
“Todos os pacientes que procuram o hospital, nós temos uma equipe que olha, que analisa e que encaminha para outras unidades, unidades municipais, dentro da complexidade. Se for algo que pode ser atendido numa UPA, nós atenderemos na UPA. Se for algo que precise ser atendido no HGP, no Hospital de Araguaína, no Hospital de Gurupi, nós atenderemos lá. Nós queremos, claro, tirar dos corredores dos hospitais as pessoas que estão lá esperando uma cirurgia. São mais de sete mil pessoas tanto na regulação como nos corredores dos hospitais esperando uma cirurgia eletiva”, disse Wanderlei nesta quinta.
A Defensoria Pública do Estado tem agido para garantir que a população tenha acesso ao atendimento que tem direito. “Muitos pacientes nesta situação. Pacientes que ficaram esperando por conta da justificativa da pandemia. Mas agora nós já temos condições de voltar a operar e nós não estamos vendo esta fila andar. Muitos pacientes têm procurado a Defensoria para isso”, diz o defensor Arthur Pádua.
Para quem sente no peito a dor da perda, nenhuma justificativa é aceitável. “Muita tristeza, muita revolta. Meu pai, ele veio pra cá, ele tava consciente de tudo, falando, mas só que eles não fizeram a cirurgia”.
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Fonte: G1 Tocantins