Sete pessoas da mesma família que vivem de benefício relatam dificuldades para se alimentar: ‘Não sobra nada’

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Maurina Lima, de 23 anos, sustenta a casa com dinheiro que recebe do Benefício de Prestação Continuada. Pesquisa do IBGE apontou Índice de Perda de Qualidade de Vida é maior entre a população negra ou parda. Pesquisa mostra que negros e pardos são os mais afetados pela pobreza
Sete pessoas da mesma família que moram na região sul de Palmas relatam dificuldades com direitos básicos, como por exemplo à alimentação. Segundo Maurina Lima, de 23 anos, deficiente física, o sustento é tirado de Benefício de Prestação Continuada, repassado pelo INSS.
São R$ 1.100 para sustentar a casa onde também vivem crianças. Segundo Maurina, às vezes falta comida.
“Eu tenho que pagar aluguel, tenho que pagar energia, tenho que pagar água, fazer compras, fazer compras dos meninos, não sobra nada”, disse a mulher.
A irmã dela, de 16 anos, também vive na residência. Ela acabou de dar à luz. Sem condições, as duas dividem o mesmo sonho: ter a casa própria, já que a residência onde elas moram é alugada.
“É muito complicado e muito difícil. Quando o dinheiro dela não dá para comprar, a gente depende de cesta básica. A gente se sustenta disso”, disse Mariana Lima, de 16 anos.
Jovem tenta sustentar família recebendo apenas o benefício de prestação continuada
Reprodução
A família saiu de Maranhão para tentar a vida no Tocantins há mais de cinco anos. Desde muito cedo, elas tiveram que encarar as dificuldades da vida. Os pais foram vítimas da violência urbana.
A realidade da família reflete a realidade da maioria dos brasileiros. Pela primeira vez, o IBGE apresentou uma pesquisa que mostra o Índice da Perda da Qualidade de Vida no Brasil, medido em uma escala de zero a um.
A pesquisa foi realizada entre 2017 e 2018, período anterior à pandemia. O estudo levou em conta uma série de indicadores, como moradia, alimentação, saúde e educação.
O estudo traz a diferença do índice segundo a cor da pele. Segundo o IBGE, quanto mais perto de zero for o índice, menor é a perda da qualidade de vida. O IPVC da pessoa branca é menor (0,123) que o da pessoa que se declara parda ou preta (0,185), maior que a média nacional (0,158).
Para o sociólogo João Nunes, professor da Universidade Federal do Tocantins, esse resultado ainda é reflexo da escravidão no Brasil.
“A forma como a sociedade se estruturou, os mesmos grupos que se mantêm no poder, mantêm essa situação para se manter no privilégio. Então isso vem desde o processo de colonização. As famílias tradicionais são as que se mantêm no poder, você pode olhar nos municípios, no estado. Existe a riqueza porque existe a exploração”.
O índice que revela também o tamanho da desigualdade social e econômica brasileira. Modelo, que para mudar, segundo o especialista, precisaria de mais políticas públicas.
“De imediato é a questão, por exemplo, dos benefícios. É preciso ter auxílio emergencial para aliviar de imediato, não é que isso seja eternizado. Outra coisa, é a fixação do homem do campo. E para isso precisa da Comissão de Terra para trabalhar, é preciso ter empréstimos com juros menores, políticas para primeiro emprego”, concluiu o especialista.
Dados mostram que pessoas negras e pardas são as mais afetadas pela pobreza
Reprodução
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Fonte: G1 Tocantins